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Hierarquia Barroca

Imaginem um tempo em que qualquer forma de poder era exercida dentro de uma hierarquia rígida e complexa. Esse tempo era o barroco. E, além do poder dos homens, a música também era regida por essa estrita hierarquia.


A partir daqui, vou deixar o Harnoncourt falar. E ele diz tudo. Vamos com ele:


Na música barroca, tudo é ordenado hierarquicamente, tal como acontecia outrora em todos os domínios da vida. [...] Há notas “nobres” e notas “comuns”, notas boas e notas ruins. [...]

De acordo com os autores musicais dos séculos XVII e XVIII, temos, em um compasso de 4/4, notas boas e ruins, nobres ou viles.

Assim, o primeiro tempo é nobre, o segundo ruim, o terceiro não tão nobre e o quarto tempo, miserável.

Os termos “nobre” e “comum” dizem respeito, naturalmente, à acentuação e se traduzem assim:


A curva dinâmica no barroco
A curva dinâmica no barroco


O sinal de “arco para baixo” vem justamente do "N", de nobre.


O sinal de “arco para cima” vem do "V" de vil, de vila, de vilão.




Este esquema de acentuação, que se assemelha a uma curva de peso, é um dos pilares da música barroca. Ele se encontra aumentado e se aplica, portanto, a grupos de compassos (um “bom” grupo é seguido de um grupo “ruim”).


Podemos sobrepor a mesma curva tanto sobre um compasso quanto estendê-la por todo um movimento, até mesmo por toda uma obra, conferindo-lhe uma estrutura clara e reconhecível de tensão e descontração.


Esta curva de acentuação do compasso pode ser também diminuída, valendo, então, para passagens tanto em colcheias quanto em semicolcheias. Disto resulta uma complexa formação de hierarquias, regidas a cada vez pelo mesmo princípio de ordem. Este tipo de ordem podemos observar por todo lado no barroco; existe uma unidade de concepção da arte e da vida.


Contudo, seria muito monótono se toda a música barroca se orientasse a partir deste esquema de acentuação. Seria quase tão monótono — um termo totalmente estranho ao barroco — quanto todas essas execuções atuais de música barroca interpretadas com uma igualdade verdadeiramente mecânica. As duas maneiras estão erradas e monótonas, pois, após o décimo compasso, sabe-se perfeitamente o que irá acontecer na próxima meia hora. Graças a Deus, há algumas hierarquias superiores que quebram essa monotonia da acentuação: uma das mais poderosas é a harmonia. Uma dissonância precisa ser sempre acentuada, mesmo que ela se encontre num tempo fraco; a resolução da dissonância não pode ser acentuada de forma igual.


Aqui já temos uma forte contra-hierarquia que dá de imediato à hierarquia principal, ritmo e vida.



 
 
 

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